Há uma passagem no livro Palácio da Lua de Paul Auster de que eu gosto particularmente. Em determinada altura Marco Fogg, antes de partir para a faculdade, recebe do seu tio Victor mais de mil livros como presente de despedida, e durante cerca de um ano e meio não abriu nenhum dos caixotes, convertendo-os em «mobília imaginária». Com eles fez mesas, camas, mesinhas-de-cabeçeira, etc. "Imaginem só o prazer que é uma pessoa sentar-se para tomar uma refeição e ter debaixo do prato a Renascença inteira", dizia ele.
Eu vou seguir-lhe o exemplo. A partir de agora as noites que antes eram frias e solitárias vão começar a ter a companhia de um livro. Hoje, em baixo dos lençóis e em jeito de homenagem, vou dormir com o já mencionado Palácio da Lua do Auster. Amanhã vou dormir com a História Concisa de Portugal do José Hermano Saraiva. Depois logo se vê, mas estou a pensar seriamente em comprar de propósito para o efeito o Sei Lá da Margarida Rebelo Pinto - tenho a certeza absoluta que ia ser uma noite bem passada. Mas calma aí, eu sou uma pessoa bem intencionada: não está presente nos meus pensamentos qualquer tipo de contacto físico, nem um breve desfolhar de páginas. Procuro apenas companhia e amizade. De qualquer maneira, na bebedeira do sono, por vezes, conseguem-se proezas inimagináveis. Por isso faço um apelo a todos os livros: Tenham cuidado comigo.
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