quarta-feira, março 23, 2005

No roteiro da Cinemateca


Faltou falar deste grande filme. Um filme sobre "o espectáculo da vida que se confunde com a vida do espectáculo". Um filme dividido em duas partes e que ao todo deve durar, aproximadamente, 3 horas. E foram 3 horas de pura emoção. E de constrangimento também - de repente estamos a ver a nossa vida mesmo ali, à nossa frente, com os encontros, desencontros, alegrias e tristezas que ela nos proporciona.
LES ENFANTS DU PARADIS é um filme de Marcel Carné e foi rodado entre 1943 e 1945, num período muito conturbado da História (durante a ocupação nazi). Há quem tenha chamado a esse período cinematográfico "les années noires".
O filme é todo ele muito impressionante, quer a nível visual, quer a nível narrativo. Três dos actores destacam-se na representação: Jean-Louis Barrault no papel de Baptiste Debureau; Pierre Brasseur no papel de Frédérik Lemaître; e Arletty no papel de Garance. Mas há outra personagem, bastante enigmática, por sinal, de que se deve também falar: Lacenaire, interpretada por Marcel Herrand, que, segundo descobri, foi inspirada em alguém que realmente existiu. Assim como Debureau (e talvez também as outras personagens, mas isso não posso garantir).

"Paris est tout petit pour ceux qui s’aiment comme nous d’un aussi grand amour"

A vida no teatro "Les Funambules" dá voltas e voltas ao sabor da inevitabilidade do tempo. Como referi, é disso que o filme trata, do espectáculo da vida, das suas contradições e das relações de afastamento e aproximação que os intervenientes constroem entre sim. Trata do amor, da felicidade e drama a ele inerentes. E o filme tem um final aterrador, que deixa tudo em aberto.
E como gosto de finais em aberto... Também gosto de finais felizes: aliás, o cinema, ao longo dos tempos, tem-nos facultado muito isso, a capacidade de sonhar e de pensar que tudo vai acabar bem. Mas os finais em aberto (quando a amante foge no meio da multidão eufórica e ele não a consegue alcançar...) também são muito bons. Deixam-nos desnorteados e nós gostamos.

1 comentário:

bolacha disse...

gostamos. nós gostamos.